A noite fria e chuvosa de sexta-feira antecipa uma jornada difícil. Mas a força de vontade e a boa disposição da equipa da ADRA (Associação Adventista para o Desenvolvimento, Recursos e Assistência) fazem ultrapassar os obstáculos. Afinal, o dia é especial. Um "amigo" faz anos e a "festa" foi preparada. A expectativa para o encontrar é grande. "São muito inconstantes, não estão sempre nos mesmos lucais.", avisa Álvaro Bastos, coordenador da ADRA Porto.
Primeira paragem: Rua 5 de Outubro. Debaixo do viaduto, Augusto, 40 anos, fica surpreendido com a visita. Os 11 voluntários dessa ronda cantam-lhe os parabéns, oferecem-lhe bolo, dão-lhe uma lembrança. Augusto, há sete anos sem teto, sorri, agradece. "Alegria" é a palavra que escolhe, quando lhe perguntámos o significado do gesto.
A próxima paragem é a Rua Júlio Dinis. Antes, em frente à Casa da Música, na Boavista, um homem, com um cartaz ao peito, pede comida. É Henrique 56 anos, fisionomia acabada. O prato de puré e feijão, confeccionado carinhosamente pçor Áurea, permite-lhe poupar o dinheiro que ganha a pintar quadros para pagar a pensão onde dorme.
Segue-se, então, para Júlio Dinis, onde dezenas esperam a carrinha da ADRA. Já lá estão, também, outras associações, porque é sexta-feira. "Normalmente vimos ao domingo à noite, em que quase não há rondas", refere Carlos Rocha, um dos voluntários. Também ao domingo de manhã a equipa leva o pequeno-almoço a mais de meia centena de sem-abrigo. "Inicialmente fazíamos a zona do Hospital de Santo António e da Câmara do Porto, onde há muita gente. Mas agora optamos por ir a zonas onde não há tanta concentração e onde há mais necessidade", explica Paulo Gomes.
Os elementos da ADRA dispersam-se, para tentar acudir ao maior número de pessoas. Sandro e Cláudia, Ana, João, Jorge, Carlos, Paulo, Álvaro e Aurea, e os elementos mais novos, Sara e Fernando, dividem-se em preocupação: "De dia passamos aqaui e não se vê ninguém. À noite são mesmo muitos", observa Fernando, de 17 anos.
Num corrupio, com a chuva a não dar tréguas, cumprem a sua missão. Despedem-se, por entre sorrisos, de quem dali não sai, numa cumplicidade que denuncia os laços criados.